sexta-feira, 18 de maio de 2012

Mega-agrupamentos: primeira fase para 2012/13

 Concluída e divulgada  lista da primeira fase de agregações, a implementar em 2012/13

São agora divulgadas 115 novas unidades orgânicas, mais virão, ainda a implementar durante o próximo ano letivo e a divulgar numa segunda fase, muito em breve, segundo o comunicado do MEC. 

quinta-feira, 17 de maio de 2012

As virtudes (?) da obediência

Em 1964 Stanley Milgram recebeu o prémio da American Association for the Advancement of Science, na área da psicologia social, na sequência da sua investigação experimental acerca da natureza e variáveis da obediência.


Participaram 800 pessoas, voluntariamente, numa investigação que foi divulgada como sendo acerca da aprendizagem e memória. Na realidade, pretendia-se inquirir de que forma é que os indivíduos observados tendem a obedecer ao que reconhecem como autoridade, mesmo que esta contradiga o bom senso individual, nomeadamente no plano da moralidade comum.
A autoridade era representada pelos «cientistas» que recebiam os participantes nas instalações laboratoriais, impecavelmente vestidos de bata branca e expressão de seriedade competente.
Explicavam aos participantes que fariam o papel de «professores», com poder de colocar perguntas (previamente fornecidas) a um «aluno», que podiam ver (sem ser vistos) numa sala contígua, através de um vidro fosco.
Era-lhes fornecida uma placa de comando associada a um gerador elétrico, cujos fios estariam ligados aos pulsos do «aluno». A paleta permitia acionar choques elétricos, sobre o «aluno», que ia dos 15 (intensidade inofensiva) até aos 450 volts; eram esclarecidos sobre o facto de, a partir dos 375 volts (intensidade severa), existir probabilidade de dano pessoal para o «aluno». Reforçando o esclarecimento, o investigador permitia que cada «professor» recebesse, ele próprio, um choque de fraca intensidade (15 volts), para compreenderem o que o aluno sentiria.
Os choques elétricos seriam aplicados em caso de erro nas respostas do «aluno»; respostas repetidamente erradas eram, por ordem do investigador, penalizadas com choques de intensidade crescente.
Naturalmente que a ligação elétrica era fictícia e os choques, de qualquer intensidade, não eram sentidos pelo aluno que apenas simulava a dor, gritando, contorcendo-se e suplicando clemência, em consonância com a voltagem aplicada. Mas os «professores» desconheciam tal, crendo tratar-se de situações realistas. 
Os «professores» conduziam-se, na experiência, em obediêncis rigorosa às instruções do investigador, o qual mantinha uma expressão segura e inalterável, perante as manifestações de dor e as súplicas do «aluno». 
Os resultados foram os seguintes:
- 65% dos «professores» continuaram a penalizar o «aluno», até atingirem 450 volts;
- a percentagem anterior distribuiu-se de forma equilibrada entre os participantes do sexo feminino (50% do total) e do sexo masculino (50% do total), pelo que não se distinguiram variáveis comportamentais associadas ao género.

Na previsão antecipada pela equipa de Milgram, havia a expetativa que 2% dos investigados pudessem chegar a aplicar os choques de máxima intensidade. Os resultados ultrapassaram, em muito, as expetativas, o que foi considerado, pelo próprio Milgram, como chocante.

Somos programados para obedecer?

segunda-feira, 14 de maio de 2012

Ad Feuerbach (1845)

Os pilares da filosofia de Marx, admitidos pelo próprio e também por Engels, terão sido a filosofia alemã, o socialismo utópico francês e a economia política inglesa. Da filosofia alemã, destaca-se a influência do idealismo absoluto de Hegel e do materialismo contemplativo e 'romântico'de Feuerbach, ambos comcebidos por Marx como superados na sua visão científica do materialismo dialético. Em 1884, Marx redigiu o pequeno opúsculo que ficou conhecido, em Portugal, como «Teses sobre Feuerbach», no qual se verifica a passagem de uma dimensão especulativa-crítica da filosofia, para uma dimensão práxica, concebida como projeto filo-político.


I
A insuficiência principal de todo o materialismo até aos nossos dias (o de Feuerbach incluído) é a de as coisas, a realidade, o mundo sensível, serem tomadas apenas sob a forma do objeto  (Objekt) ou da contemplação (Anschauung); mas não como atividade humana sensível, práxis, não subjetivamente. Daí o lado ativo desenvolvido abstratamente, em oposição ao materialismo, pelo idealismo - o qual naturalmente não conhece a atividade sensível real, como tal. Feuerbach quer objetos sensíveis realmente distintos dos objetos do pensamento: mas não toma a própria atividade humana como atividade objetiva. Daí que, na Essência do Cristianismo apenas considere a atitude teórica como a genuinamente humana, ao passo que a práxis é apenas tomada e fixada na sua forma de manifestação sordidamente judaica. Daí que ele não compreenda o significado da ativida revolucionária, de crítica prática.
II
A questão de saber se ao pensamento humano pertence a verdade objetiva - não é uma questão da teoria, mas uma questão prática. É na práxis que o homem tem de comprovar a verdade, isto é, a realidade e o poder, o caráter terreno do seu pensamento. A disputa sobre a realidade ou não-realidade do pensamento - que está isolado na práxis - é uma questão puramente escolástica.
III
A doutrina materialista da transformação das circunstâncias e da educação esquece que as circunstâncias têm de ser transformadas pelos homens e que o próprio educador tem de ser educado. Daí que ela tenha de cindir a sociedade em duas partes - uma das quais fica elevada acima dela.
A coincidência da mudança das circunstâncias e da atividade humana ou autotransformação, só pode ser tomada e racionalmente entendida como práxis revolucionária.
IV
Feuerbach parte do facto da auto-alienação religiosa, da duplicação do mundo num mundo religioso e num mundo mundano. O seu trabalho consiste em resolver o mundo religioso na sua base mundana. Mas que a base mundana se erga acima de si própria e se fixe, um reino autónomo, nas nuvens, é de explicar apenas a apartir da autodivisão e do contradizer-se a si mesma desta base mundana. É esta mesma, portanto, que em si própria tem de ser tanto entendida na sua contradição como praticamente revolucionada. Portanto, depois de, por exemplo, a família terrena estar descoberta como o segredo da sagrada família, é aquela mesma que então tem de ser teoricamente e praticamente aniquilada.
V
Feuerbach, não contente com o pensamento abstrato, quer o conhecimento sensível; mas não toma o mundo sensível como atividade humana sensível prática.
VI
Feuerbach resolve a essência religiosa na essência humana. Mas a essência humana não é uma abstração inerente a cada indivíduo. Na sua realidade ela é o conjunto das relações sociais.
Feuerbach, que não entra na crítica desta essência real, é, por isso, obrigado:
1. a abstrair do processo histórico e a fixar o sentimento religioso por si, e a pressupor um indivíduo abatratamente - isoladamente - humano.
2. A essência só pode, por isso, ser tomada como "espécie", como generalidade interior, muda, que liga naturalmente os muitos indivíduos.
VII
Feuerbach não vê, por isso, que o próprio "sentimento religioso" é um produto social, e que o indivíduo abstrato que ele analisa pertence a uma determinada forma de sociedade.
VIII
Toda a vida social é essencialmente prática. Todos os mistérios que levam a teoria ao misticismo encontram a sua solução racional na práxis humana e no compreender desta práxis.
IX
O mais alto a que chega o materialismo contemplativo, isto é, o materialismo que não compreende o mundo sensível como atividade prática, é à visão (Anschauung) dos indivíduos isolados e da sociedade civil.
X
O ponto de vista do materialismo velho é a sociedade burguesa, o ponto de vista do novo, a sociedade humana ou a humanidade social.
XI
Os filósofos têm apenas interpretado o mundo de maneiras diferentes. A questão é transformá-lo.
Trad. do original alemão por Álvaro Pina, segundo o
 manuscrito de Marx, da primavera de 1845.

quinta-feira, 10 de maio de 2012

Mário Soares


« É preciso compreender o dr. Mário Soares. Ele é o último estadista sobrevivente no panorama português. Ele tem a qualidade essencial dos estadistas. O olfato apurado para o perigo. Comparado com ele, quase toda a paisagem atual, partidária e governativa, é composta por iniciados e figuras que nunca passarão da segunda linha. O que Mário Soares quer dizer, quando afirma que o PS deve romper com a troika, não é que o PS deve ir para a rua fazer barricadas, ou assumir uma atitude destrutiva no Parlamento. O que quer dizer é que o PS deve lutar contra a lógica do memorando de entendimento. E essa lógica assenta na ideia falsa de que os países intervencionados são os únicos responsáveis pela situação a que chegaram, e que a austeridade é não só a solução económica mas o indispensável castigo político de povos inteiros que resolveram "viver acima das suas posses". Soares tem dito, e bem, que a crise é europeia. Que a moeda única, sem o suporte de um orçamento e de um governo federais, acaba por ser uma prisão dos países menos competitivos.(...)»
                                                              Viriato Soromenho Marques



terça-feira, 8 de maio de 2012

O País das maravilhas

Não se avolumam grandes notícias de contestação aos mega-giga-agrupamentos que, segundo a imprensa, podem chegar a 9 mil alunos (como aconteceu em 2010).
É de notar, também, que não são os Conselhos Gerais que, obrigatoriamente auscultados, em função da lei em vigor, mais frequentemente rejeitam ou criticam as propostas das DREs, tomando posição pública e formal, mas as autarquias. O que, segundo me parece revela dois ou três aspetos significativos, a saber:
- que os mapas da contestação estão demasiado ligados à cor partidária da autarquia, o que transforma o problema, de política educativa para 'politiquice', enfraquecendo a sua razão;
- que os Conselhos Gerais estão muito longe de compreenderem a sua natureza como orgão colegial de direção estratégica, que une representantes de todos os setores da comunidade educativa;
- que os Conselhos Gerais não sabem, não querem ou não podem refletir sobre as políticas educativas e os seus efeitos e assumirem-se como uma voz que faça a diferença, na escola e fora dela;
- que os Conselhos Gerais também se esgotam, demasiado frequentemente, na 'politiquice' caseira que, variando de escola para escola, se caracteriza, ora por golpes de bloqueio aos diretores, ora numa bajulação caciqueira aos mesmos  (dependendo da conjuntura).
Em qualquer dos casos, a propósito dos AE, ninguém discute, com seriedade e/ou competência, políticas educativas, suas implicações e efeitos.