domingo, 16 de outubro de 2011

Ainda a ‘liderança’ nas escolas

No contexto da governação escolar aos vários níveis – gestão de topo e intermédias, vulgo diretores e coordenadores de departamento – as virtudes da liderança partilhada eram já focadas, há mais de 50 anos, por John Dewey. Apesar do atual contexto de administração escolar, onde a representatividade democrática dos professores foi amplamente reduzida, restam alguns caminhos de participação ativa (nomeadamente ao nível dos Conselhos Gerais) que têm de ser, urgentemente, levados a sério.
Na realidade, os professores são um corpo profissional de elite, em termos de habilitações académicas e profissionais, somente equiparáveis a grupos profissionais como médicos e juízes, por exemplo. Porém, os índices da sua  participação cívica na interior das organizações educativas a que pertencem – sinal de profissionalidade responsável, informação, reconhecimento da missão educativa e de autonomia – são demasiado baixos. Baldridge identifica quatro tipos de atores políticos nas escolas (referenciado por Stephan Ball, no livro Micropolítica da escola, escrito nos anos 80): funcionários, ativistas, pessoas alerta e apáticos. Os funcionários são, por definição, politicamente envolvidos, em função da sua carreira, estilo de vida e ideologia, uma vez que assumem tarefas de direção da organização; os diretores das escolas estão neste grupo. Os ativistas são um pequeno contingente de atores implicados na política escolar e educativa, como os delegados sindicais ou os simplesmente ‘influentes’, por exemplo; participam, quer formal quer informalmente, no sentido de influenciar as decisões. As pessoas alerta tendem a participar apenas quando há problemas muito delicados, uma vez que, embora acompanhem a maioria dos processos, o fazem à distância e não querem comprometer-se; constituem o grupo mais numeroso, mas também o mais responsável pelo excesso de comodismo e conformismo que periga a democracia interna das escolas. Os apáticos não demonstram interesse em participar; colocam-se à margem por razões várias e a sua não participação pode ser estratégica, nomeadamente sob o ponto de vista pessoal.
A classificação de Baldridge é-nos tão familiar, que ficamos constrangidos. Apetece perguntar aos colegas docentes ( a nós mesmos): a que nível se situa? É um dos apáticos? Ou será daquelas pessoas a que o alerta chega tarde de mais?
É que, no contexto de uma crescente autonomia que, pelo menos aparentemente, é consensualmente reivindicada, a liderança colegial é inerente à ideia de colegialidade profissional. Somente deste modo podem, os professores, impor a excelência da sua formação e a importância do seu papel social dentro e fora da escola. Fátima Sanches, num artigo sobre a liderança colegial das escolas, considera-a uma dupla oportunidade (para as escolas e para os professores),  indissociável dos objetivos pós-modernos de melhoria e eficácia dos sistemas educativos, que tem lugar em algumas margens organizacionais do trabalho do professor, mas que urge deslocar para o centro da vida quotidiana da escola.

1 comentário:

Anónimo disse...

1º- Os Conselhos gerais é que têm de se levar a sério, isto é, tomarem efectiva consciência da sua importância na estrutura organizacional do respectivo estabelecimento de ensino. Não podem ser objectos decorativos(ou deixar que os tomem como tal) nem cair em jogos de interesses que não sejam exclusivamente os da educação e ensino da comunidade que representam. E isto não é uma questão de lei, mas de consciência cívica.
2º- Infelizmente, muitas são as causas que levaram a que uma grande parte dos docentes sejam pouco activos no que respeita à sua envolvência na escola.Desde a própria formação, hoje muito mais orientada numa perspectiva tecnicista( ou tecno-prática, se se quiser), em detrimento do desenvolvimento da reflexão crítica, até ao "clima" gerado pelas políticas educativas da última década, que não facilitam,nem promovem, embora digam o contrário, processos de reflexão e trabalho cooperativo.Dito doutro modo, tem-se valorizado (e vulgarizado) o professor como um técnico e o ensino como a aplicação de técnicas. Como inverter este caminho? Eis a questão.

Nelsa