quarta-feira, 23 de janeiro de 2013

Uma noite inesquecível na casa de Amália!

No Teatro Politeama, assistimos a mais um musical de Filipe La Féria sobre a diva do fado. Desta vez, o autor e encenador ficcionou um dos lendários serões de Amália, na sua casa da rua de São Bento.
O cenário reproduz a sala de estar da casa de Amália. Ao fundo, as janelas deixam entrever o azul do céu, salpicado do branco das nuvens. É ainda neste espaço que são projetados alguns dos quadros de Maluda, que retratam recantos da cidade de Lisboa, através do recurso às novas tecnologias (projeção multimédia).
O espetador, perante este “décor”, sente-se como fazendo parte da história e do grupo de amigos de Amália Rodrigues, durante uma noite de convívio, no dia 19 de dezembro de 1968, na véspera da partida de Vinícius de Moraes para o Brasil.
Ao lado da figura central de Amália, outras personagens desfilam, interagindo entre si. David Mourão-Ferreira, o poeta, acompanha Amália durante esta noite. Os seus poemas foram cantados pela fadista, que aliás foi pioneira na interpretação musical de poemas de autores consagrados. Alain Oulman, outro dos convivas, representa o artista, cuja originalidade e forma de arte incomoda a repressão da ditadura salazarista, sendo perseguido pela PIDE. Oulman acaba por decidir exilar-se em Paris, onde crê poder continuar a dar asas ao seu talento de criação artística. Natália Correia simboliza a poesia de elite, o poeta intelectual. Esta personagem contrapõe-se à de Ary dos Santos, que defende que a poesia é do povo e para o povo. Esta perspetiva diferente fomenta a relação aparentemente conflituosa entre ambos. A pintora Maluda completa esta galeria, simbolizando a importância das artes plásticas no desenvolvimento intelectual e cultural de um povo. O elenco das personagens conta ainda com o poeta e cantor Vinícius de Moraes, os acompanhantes musicais de Amália (guitarra portuguesa e viola) e Hugo Ribeiro, funcionário da Valentim de Carvalho e responsável pela gravação dos fados e das declamações feitas pelos diferentes intervenientes, durante este longo serão cultural. Para completar este quadro, surge ainda Casimira, a empregada e governanta de Amália.
A ação decorre durante uma noite, assistindo-se a uma reprodução mais ou menos fiel do convívio entre artistas de diversas áreas (música, pintura e poesia) na casa da diva portuguesa do fado. Para além da partilha das expressões de arte que cada personagem domina, o objetivo deste serão é o de que todas as representações sejam gravadas para editar um disco, pela Valentim de Carvalho.
Quanto à personagem principal, o público fica a conhecer as suas diferentes facetas: a Amália que canta fado (e cujas letras são poemas de Camões, David Mourão-Ferreira ou Ary dos Santos); a Amália que interpreta cantigas com uma sonoridade mais popular; a Amália que canta canções em línguas estrangeiras como o Francês ou o Espanhol.
O público vai, assim, construindo um retrato desta artista, ficando com a ideia de que esta foi muito mais do que uma fadista, adaptando-se com extrema facilidade a outros registos musicais.
Por último, o espetador é brindado com uma homenagem feita por cada ator a cada um dos artistas retratados, evidenciando a mais-valia que cada um deles representou no contexto da época recriada.
“Uma noite em casa de Amália” presenteia o público com a evocação de figuras incontornáveis da cultura portuguesa.
Amália ofereceu-nos a sua VOZ… Para sempre!

21/01/2013

1 comentário:

Anónimo disse...

De facto, estamos perante mais um fantástico espetáculo de La Féria!
Venham mais...