quinta-feira, 17 de maio de 2012

As virtudes (?) da obediência

Em 1964 Stanley Milgram recebeu o prémio da American Association for the Advancement of Science, na área da psicologia social, na sequência da sua investigação experimental acerca da natureza e variáveis da obediência.


Participaram 800 pessoas, voluntariamente, numa investigação que foi divulgada como sendo acerca da aprendizagem e memória. Na realidade, pretendia-se inquirir de que forma é que os indivíduos observados tendem a obedecer ao que reconhecem como autoridade, mesmo que esta contradiga o bom senso individual, nomeadamente no plano da moralidade comum.
A autoridade era representada pelos «cientistas» que recebiam os participantes nas instalações laboratoriais, impecavelmente vestidos de bata branca e expressão de seriedade competente.
Explicavam aos participantes que fariam o papel de «professores», com poder de colocar perguntas (previamente fornecidas) a um «aluno», que podiam ver (sem ser vistos) numa sala contígua, através de um vidro fosco.
Era-lhes fornecida uma placa de comando associada a um gerador elétrico, cujos fios estariam ligados aos pulsos do «aluno». A paleta permitia acionar choques elétricos, sobre o «aluno», que ia dos 15 (intensidade inofensiva) até aos 450 volts; eram esclarecidos sobre o facto de, a partir dos 375 volts (intensidade severa), existir probabilidade de dano pessoal para o «aluno». Reforçando o esclarecimento, o investigador permitia que cada «professor» recebesse, ele próprio, um choque de fraca intensidade (15 volts), para compreenderem o que o aluno sentiria.
Os choques elétricos seriam aplicados em caso de erro nas respostas do «aluno»; respostas repetidamente erradas eram, por ordem do investigador, penalizadas com choques de intensidade crescente.
Naturalmente que a ligação elétrica era fictícia e os choques, de qualquer intensidade, não eram sentidos pelo aluno que apenas simulava a dor, gritando, contorcendo-se e suplicando clemência, em consonância com a voltagem aplicada. Mas os «professores» desconheciam tal, crendo tratar-se de situações realistas. 
Os «professores» conduziam-se, na experiência, em obediêncis rigorosa às instruções do investigador, o qual mantinha uma expressão segura e inalterável, perante as manifestações de dor e as súplicas do «aluno». 
Os resultados foram os seguintes:
- 65% dos «professores» continuaram a penalizar o «aluno», até atingirem 450 volts;
- a percentagem anterior distribuiu-se de forma equilibrada entre os participantes do sexo feminino (50% do total) e do sexo masculino (50% do total), pelo que não se distinguiram variáveis comportamentais associadas ao género.

Na previsão antecipada pela equipa de Milgram, havia a expetativa que 2% dos investigados pudessem chegar a aplicar os choques de máxima intensidade. Os resultados ultrapassaram, em muito, as expetativas, o que foi considerado, pelo próprio Milgram, como chocante.

Somos programados para obedecer?

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