sábado, 6 de abril de 2013

Sobre a Ironia, Nietzsche, Sócrates e Almada Negreiros (que faria amanhã 120 anos)

Há na Ironia um conjunto de aspetos que a transformam numa arma particularmente corrosiva. Ela consegue, de forma particularmente eficaz, colocar a nú a fragilidade do 'homem sério', a relatividade da sua linguagem  moralista, desvendando no discurso pomposo, o que Nietzsche designou de 'décadence'.
Apesar de Nietzsche incluir o 'pai da Filosofia' na civilização decadente da racionalidade alienada e moralizada, é possível que tenham tido mais em comum do que nos parece à primeira vista.
Porque a Ironia constitui - como Sócrates estabeleceu - uma metodologia dialógica negativa, crítica, que desconstrói, desmonta e corrói, e portanto, desvenda. Desvenda a vacuidade do discurso 'sério' e 'responsável', mostrando o seu osso desfeito em pó. 
Porque a Ironia é poderosa e Sócrates dela foi Mestre, foi odiado pelo poder instituído: ódio 'institucional' e legítimado pelas instituições da democracia ateniense, que tinha o poder de lhe tirar a voz, tirando-lhe a vida. Foi em 399 a.C..  O poder, na sua compulsão de se manter, é mortífero e mortal.
O poder é conservador e a ironia é, de certo modo 'futurista', pois abre os caminhos das mudanças de paradigma.
Almada Negreiros sabía-o, com apenas 23 anos (em 1915). O seu Manifesto Anti-Dantas marca o início do movimento futurista, pretendendo ultrapassar a decadência lamechas da literatura 'séria' e 'institucionalizada'. Futuro é irreverência, crítica, alguma arrogância, até.

1 comentário:

LUcas Varela disse...

Falta-nos hj a irreverência de um Almada Negreiros e, tb digno de homenagem, a voz corajosa de um Mário Viegas q adaptou o manifesto e fez o Manifesto Anti.Cavaco.
Bem haja, amiga Fernanda.
L. Varela