“Deus quer, o homem sonha, a obra nasce” (1)
O “Theatro Politeama” nasceu porque um homem apaixonado pelas artes do espetáculo, Luís António Pereira, sonhou dar a Lisboa uma nova sala de espetáculos musicais e teatrais. A sua primeira pedra foi lançada em maio de 1912, na Rua das Portas de Santo Antão, frente ao Coliseu dos Recreios. O projeto esteve a cargo do prestigiado arquiteto Ventura Terra e o escultor Jorge Pereira e os pintores Benvindo Seia e Veloso Salgado foram os responsáveis pela decoração desta casa de espetáculos. Finalmente, Luís António Pereira inaugurou o "seu" Politeama a 6 de dezembro de 1913.
A opereta "Valsa de Amor" constituiu o espetáculo de estreia. Ao longo de quase um século, muitas foram as companhias de teatro que representaram no “nosso” Politeama e muitos foram os atores e atrizes que pisaram o seu palco – Palmira Bastos, Maria Matos, Amélia Rey Colaço, Laura Alves e João Villaret, entre outros. Por este teatro, passaram ainda António Silva, Irene Isidro, Vasco Santana, Teresa Gomes, Raúl de Carvalho, Emília de Oliveira, Ruy de Carvalho, Varela Silva e Curado Ribeiro, considerados os maiores atores da cena portuguesa do século XX.
No entanto, a grandeza do politeama não se esgotou na arte teatral. A sua sala foi, durante anos, cinema, onde se estrearam alguns filmes que fizeram história, bem como palco do programa radiofónico “Comboio das Seis e Meia”, onde Amália Rodrigues estreou vários dos seus grandes sucessos, nomeadamente “Foi Deus”.
Foi ainda no Politeama que se prestou homenagem a várias personalidades do espetáculo e que se levou à cena bailados.
No início da década de 90, Filipe La Féria remodelou o Teatro Politeama, tendo estreado, em 1992, neste palco, o grande musical "Maldita Cocaína" de sua autoria. Desde então, o Politeama tem sido palco de inúmeros musicais, protagonizados por diferentes atores e atrizes, cuja semelhança é o seu inestimável talento. Salienta-se, há cerca de dez anos atrás, o musical “Amália”, considerado pela crítica como um marco histórico na Cultura Portuguesa. Durante seis anos, este espetáculo foi ininterruptamente representado em Lisboa, Paris e noutras cidades da Europa e do mundo.
Os finais de tarde e as noites no Politeama tornaram-se momentos inesquecíveis na vida dos lisboetas e de todos quantos visitam a nossa capital. No “renascimento” do Politeama como sala de espetáculos teatrais e musicais, é indiscutível o papel preponderante de Filipe La Féria, cuja determinação e persistência são referências marcantes.
La Féria iniciou a sua atividade teatral, como ator, em 1963, no Teatro Nacional D. Maria II, ao lado de Amélia Rey Colaço. Durante dezasseis anos, foi diretor do Teatro Casa da Comédia, onde encenou várias peças e deu a conhecer autores como Marguerite Yourcenar, Mishima, Marguerite Duras ou Mário Cláudio. Na década de 90, aceitou o convite como autor, encenador e cenógrafo de “Passa por mim no Rossio”, no Teatro Nacional D. Maria II.
Foi bolseiro da Fundação Calouste Gulbenkian e estudou encenação na cidade de Londres. Durante mais de uma década, foi professor universitário, tendo regido a cadeira de “Arte e Imagem” na Universidade Independente.
A Casa da Imprensa, a Secretaria de Estado da Cultura e vários órgãos de comunicação social atribuíram-lhe prémios como autor, encenador e cenógrafo. Foi condecorado com a Ordem do Infante D. Henrique e com a Grã-Cruz da Ordem do Infante, pelos então Presidentes da República, Doutor Mário Soares e Doutor Jorge Sampaio, respetivamente. Os seus espetáculos “Amália” (2000), “My Fair Lady” (2003), “Música no Coração” (2006) e “West Side Story” (2009) ganharam os Globos de Ouro.
Para além destes musicais, La Féria tem-se destacado, igualmente, na criação de peças de teatro infantis, que encantam e deliciam crianças, jovens e adultos.
E é assim que, desde há cem anos, o Politeama proporciona momentos mágicos e inolvidáveis ao seu público… Bem haja!
(1) Citação de Fernando Pessoa
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